quinta-feira, dezembro 04, 2008

Braço de Ferro na Educação




Não é minha intenção fazer qualquer juizo de valor sobre este clima de acusação constante entre os professores e o ministério que tutela a educação. Muito menos tomar partido de uma das partes. Mas como temos assistido a esta batalha campal parece-me que a situação merece um comentário à luz do pensamento que pauta esta plataforma :)

Vamos imaginar uma empresa que coloca um produto no mercado e que obriga as pessoas a consumirem algo que não querem. As pessoas arranjam representantes sindicais e a luta começa. A empresa quer que o produto se venda e os representantes dos clientes querem que o mesmo saia imediatamente do mercado. Parece estúpido principalmente porque muito dificilmente se consegue coagir um consumidor a passar a cliente.
Vejamos então um exemplo mais razoável: uma empresa muda a estratégia de venda do produto X (sei lá, passou a vender-se apenas na internet). As vendas descem. De acordo com um estudo do comportamento dos consumidores, percebe-se que estes não gostam de ter de fazer a compra através de um portal virtual. Das duas uma, ou se conclui que mais vale voltar à estratégia antiga ou então tenta-se perceber porque é que a plataforma não funciona nem reúne o desejo dos seus utilizadores!

Mas vamos manter os dois exemplos em mente!

Há uns tempos tive para estudar o efeito das técnicas do marketing interno na introdução da avaliação de desempenho da função pública. O marketing interno tem caracteristicas muito particulares e muito diferentes quando comparado com o marketing tradicional.

1º o nosso cliente é o funcionário;
2º o produto/serviço de "venda" são as ideias e os objectivos que a organização pretende incutir nos seus colaboradores;
3º tratando o marketing das relações de troca, o que numa primeira fase distingue o cliente interno do cliente externo, é que o primeiro já recebe dinheiro em "troca" do seu trabalho ao serviço da organização;
4º por esta razão é complicado conseguir com que o colaborador esteja disposto a "comprar" nova ideia (mas estará disposto em fazer nova troca complementar?).

Aqui nem sequer estou a considerar que estamos a falar de serviço público o que obriga a muitas outras considerações, mas adiante.

Neste caso em concreto, a empresa é o estado/governo, responsável pela educação dos portugueses e por isso gestor dos recursos humanos, fisicos e financeiros que condicionam a operacionalidade do serviço educativo. Os professores são um dos clientes internos do estado.

Pegando no exemplo 1, o que o estado está a fazer é obrigar os seus clientes a "comprar" a ideia de avaliação tal como se pretende que seja implementada. Já no exemplo 2, o que a empresa estado está a fazer é... manter o modelo e procurando a sua evolução, mas será que o está a fazer correctamente?

Há tempos li o Vende-se Portugal (que aconselho vivamente) do Henrique Agostinho. Neste livro uma das boas ideias que aqui podemos consumir é a criação de um Departamento de Marketing no corpo de trabalho do governo. Não poderia estar mais de acordo. Porquê? Porque sendo gerido por profissionais de marketing este departamento por certo diria: Atenção! A empresa vende aquilo que o cliente quiser comprar. Satisfazer o cliente é a melhor forma de alcançar os objectivos organizacionais da empresa.

Queremos uma sociedade melhor qualificada. Acredito que todos tenhamos esse desejo. Os professores são parte fundamental. São. As pessoas devem ser estimuladas pela positiva e não pela punição. Devemos ser premiados pelo nosso comportamento extraordinário e não por não ser mediano? Ou pior, devo ser premiado por ter optado em ser mediano quando podia ter sido insatisfatório? Do tipo, passei de ano mas podia ter chumbado... devo ser recompensado só por ter passado? Passei de ano e até fui o melhor aluno. Porque são este alunos recompensados? Para servir de estimulo aos outros, é que estudar compensa. A avaliação de desempenho terá o mesmo raciocínio.

E agora pegamos nisto tudo e consideramos o que não está a ser feito pela empresa estado:

  • não está a ser tido em conta o valor e o poder dos lideres de opinião, lideres formais e informais que podem influenciar as opiniões das massas;
  • a relação de troca que tem de trazer vantagens para as partes envolvidas (win-win) não está a ser operacionalizada nem trasmitida dessa forma;
  • tem sido colocada de parte o poder da comunicação como principal factor de estimulo do comportamento das pessoas. Já abordámos este assunto nos títulos A comunicação na gestão do cliente interno e Uma reflexão sobre comunicação

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